21/02/11

Obediente

A tua casa tem o cheiro da febre, as tuas palavras são água a ferver sobre a minha testa. Deixas-me quente.
E não sabes, e só to diria entrançado numa música épica, rodeada de órgãos com mil gargantas e tambores desatinando como numa guerra prestes a rebentar.
As tuas vírgulas dão-me arrepios. Da base da minha coluna até à ponta dos meus lábios. A tua voz é sinal para levantar túmulos centenários dentro de mim. A poeira espalha-se em ondas perfeitas, tossimos os dois.
Deixas-me quente. Basta que pressinta os teus passos a uma milha, e entre as minhas coxas derrete-se um vulcão abandonado pela História.
Mas tu não sabes. E só to diria escondida, fora da concha do tempo e do espaço, no meio do escuro, sem som e sem explicação. Pegaria na tua mão e fá-la-ia sentir a minha temperatura; submergir-te-ia neste vulcão entre as minhas coxas.
Pensas nisso quando te aproximas e o meu ar quase te queima? Questionas-te acerca do brilho por detrás dos meus olhos? Algo está a arder.
E queres? Provar esta lava conhecida que no entanto nunca tocaste? Talvez reconheças o cheiro do teu segundo nascimento, porque eu sei, eu fiz-te crescer contra este corpo. E os meus seios ofegaram contra o teu.
Se quiseres andar por mim, enrolo as pernas à tua volta.
Se quiseres respirar por mim, fecho a boca na tua boca.
Se me quiseres ao teu ouvido, eu grito até estar rouca.
Deixas-me quente. Vou ser obediente.



19/02/11

The Definition of Love - by Ryan O'Connell

You can stop taking quizzes in Cosmo. Here’s what love really is.

Love is still wanting to hold someone after you climax. After the initial euphoria from the orgasm wears off, you’re replaced with a sense of calm rather than a panic. You don’t want to search for your clothes, scramble to find your keys and figure out the best way to tell them, “See ya later forever!” You’re fine with chilling out in bed with the person and maybe ordering pad thai later.

Love is unattractive. It can expose our worst traits: Jealousy, irrational fears, heated anger; the gang’s all here! While it can bring out compassion and tenderness, it can also make you behave like the ugliest version of yourself. That can be okay for a little while, but love with real longevity should be like a xanax rather than an adderall.

Love is not afraid to be schmaltzy. There’s a reason why the most popular love songs are so lyrically simple. You can drown it in metaphors all you want but love usually boils down to, “You make me so happy. I want to hold your hand. I just want u 2 be mine 4ever!” You can be a 50-year-old linguistics professor at Columbia University and still find something to relate to in a Mariah Carey ballad if you’re in love because the feelings are so universal. It’s humbling, isn’t it? No matter who you are or what your background is, love can reduce you to Mariah Carey mush.

(...)

Love is getting drunk with your significant other at a party and taking a cab home with your bodies intertwined. You feel safest in these moments, the most secure. Entering a social gathering with someone who loves you is the biggest security blanket. People leave the party as a parade of droopy expressions and sad cocktail dresses. But not you. “Sorry guys, I’m in love! I’m taking a car!”

Love is fucking stupid. Love is fucking smart. Love is about betraying yourself, of compromising your ideals for someone else’s approval. That’s actually the bad kind of love, but I guess it all blurs together when you’re young or when you’re old or when you don’t love yourself.

Love is your significant other telling you about their favorite album and then making a point to fall in love with it on your own. Love is wondering why your better half loves certain things. You think you can find remnants of them in their favorite films, books and songs, but you usually can’t.

Love is finding yourself feeling protective over someone else’s well-being Love is being incensed with rage when someone or something has done your lover wrong.

Love is wanting your partner to cum. And if they can’t, just say, “That’s okay. I’m enjoying this.” It might be bullshit, but they’ll be orgasming in the next five minutes. Trust me.

Love isn’t always marriage. Marriage is spending $60,000 so everyone can know that someone loves you. You know what’s certainly not love? Debt. In some cases, love can be divorce.

Love is a back massage, a mindfuck, a hard cock, a pair of perfect breasts, of feeling unashamed about the cellulite on your body. Love is someone giving a shit about you enough to argue. Love is not passive. Love is “Don’t fucking touch me right now.” Love is “Who the FUCK were you talking to?” Love is sometimes hating yourself for a second. Love is hate. Period. Indifference is the real killer of love and the true antithesis.

When love leaves you, you should be lying on your bathroom floor with no resolve. You’re smoking cigarettes in the bathtub and crying about everything bad that’s ever happened.

Love is someone seeing the beauty in you and wanting to bask in it every day all day. Love is not guaranteed. We are not owed love. That’s why when we get it, we know how lucky we are and hold on to it for dear life.

So, yeah. That’s what love is. Anyone know where to get some?

17/02/11

Relance

Volto atrás no tempo, num relance. Escondo-me num sorriso mas tenho medo de nunca voltar.
Tenho treze anos e estou escondida. A minha casa é ainda a casa dos meus pais. Tu estás ali, à minha frente, e estás a esconder-te comigo.
Está escuro, e murmuramos. Estamos aterrorizados e apaixonados pelos nossos corpos, juntos, selados naquele abrigo de frio e escuridão. Não vemos nada à nossa volta, mas vemo-nos um ao outro com nitidez.
Sentas-te numa cadeira, e eu em cima de ti. E um contra o outro acendemos uma fogueira que começa a queimar o chão... o ar à nossa volta ilumina-se com as radiações. O calor faz ondas como água. Lentamente tudo se torna em fogo, e o desejo e o terror em nós aumentam em igual proporção.
De repente, alguém bate à porta. Com força. Tenho treze anos e estou escondida. A minha casa é ainda a casa dos meus pais. Num relance vejo-me aqui presa. Tenho medo de nunca voltar.

12/02/11

Testamento



Quero o cheiro de velas sopradas a trepar pelas minhas paredes. Reconhecer a cinza no fumo, a morte no aroma.
Quero contar os dias que passei nesta jaula com cortes nos braços. Deixar pingos de sangue no chão. Quero preparar-me.

Sinto uma estranha premonição no ar. De morte. De fim.

No entanto não fiz as pazes, só reuni a lenha para o meu inferno.
Quis tanto amar, e só caí. Quis tanto pousar, e só me estatelei. Quis tanto uma salvação... e é esta. É este cheiro a queimado.
Ouvem-se rezas no ar, vêm da Serra e vão para a cidade - passam por aqui. Empurram-me para o escuro com promessas de deuses. Nunca os vi nem lhes sei obedecer; fico.
Acaricio as paredes por uma última vez. Passo a língua por cada aresta, cada fresta empoeirada. E sei, foi tolice minha acreditar que era mais que isto. Eu sou cimento, eu sou madeira, eu sou pó. Matéria persistente revolvendo-se entre marés. EU SOU MUDA.

E todas as lágrimas se juntam num sorriso. E todas as perguntas se juntam num sorriso. E todos os gritos se juntam num sorriso. E todas as lembranças se juntam num sorriso. E todas as lutas se juntam num sorriso.
Inofensivo.
É o meu testamento.

02/02/11

The Girl from Monday

You had to want in order to be wanted.

You had to be wanted in order to survive.

Velha

Sinto-me velha, velha, cinzenta de todas as batalhas que travei. De todos os lembretes que escrevi. De todos os corpos que enterrei. Velha, de todos os romances derrotados. De todos os livros deixados a amarelecer.
E sou tão velha, tão velha, tão velha, que quando chegarem as rugas ao meu olhar e os meus cabelos embranquecerem irei nascer novamente. No alto do grande círculo. Na ponta da roda gigante. Vou voltar a ser um bebé.
E hei-de morrer sem saber palavras, à deriva na inocência, com nenhuma mágoa no coração.

Happiness Runs