21/02/11

Obediente

A tua casa tem o cheiro da febre, as tuas palavras são água a ferver sobre a minha testa. Deixas-me quente.
E não sabes, e só to diria entrançado numa música épica, rodeada de órgãos com mil gargantas e tambores desatinando como numa guerra prestes a rebentar.
As tuas vírgulas dão-me arrepios. Da base da minha coluna até à ponta dos meus lábios. A tua voz é sinal para levantar túmulos centenários dentro de mim. A poeira espalha-se em ondas perfeitas, tossimos os dois.
Deixas-me quente. Basta que pressinta os teus passos a uma milha, e entre as minhas coxas derrete-se um vulcão abandonado pela História.
Mas tu não sabes. E só to diria escondida, fora da concha do tempo e do espaço, no meio do escuro, sem som e sem explicação. Pegaria na tua mão e fá-la-ia sentir a minha temperatura; submergir-te-ia neste vulcão entre as minhas coxas.
Pensas nisso quando te aproximas e o meu ar quase te queima? Questionas-te acerca do brilho por detrás dos meus olhos? Algo está a arder.
E queres? Provar esta lava conhecida que no entanto nunca tocaste? Talvez reconheças o cheiro do teu segundo nascimento, porque eu sei, eu fiz-te crescer contra este corpo. E os meus seios ofegaram contra o teu.
Se quiseres andar por mim, enrolo as pernas à tua volta.
Se quiseres respirar por mim, fecho a boca na tua boca.
Se me quiseres ao teu ouvido, eu grito até estar rouca.
Deixas-me quente. Vou ser obediente.



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