02/04/11

O Pertinente

As professoras utilizam muito a palavra Pertinente. Desde cedo aprendi esse conceito e o seu estatuto de realeza. Num mundo em que devemos ficar sentados e somos obrigados a levantar o braço se queremos comunicar, a Pertinência era a rainha e sentava-se num trono alado. Ficava flutuando num canto junto ao tecto observando-nos, julgando-nos, fazendo-nos gaguejar com a incerteza do nosso valor.
O que é, então, o Pertinente? É o apropriado, o relevante, o oportuno. É o que não ofenda, o que não amachuque, o que não dê um bruto safanão à cabeça da rainha fazendo-a perder a coroa.
Muitas vezes terei pecado por impertinência, o que detectava pelos olhares desconfortáveis, tiques nos cantos das bocas. É-me difícil acorrentar as palavras que desejam ser som. Ou impedir os meus pensamentos de correrem a abraçar os outros num ímpeto. Quero dizer. Sempre quis. É o meu modo de abrir os braços.
Mas aprendemos a vergonha, o medo de cair na desgraça. Os nossos tempos de tagarelice enquanto bebés desvanecem na aprendizagem da educação. E embora o silêncio seja a verdade, as palavras são o caminho que lá nos conduz. São a doença que ensina a cura.
Em vez disso morremos calados em nome da pertinência.

Sem comentários:

Enviar um comentário