19/11/10

Passagem

Senta-se nas escadas e pensa em desejar.
Pondera, reflecte, mas não deseja.
A sombra desponta das fendas dos azulejos e atravessa-lhe o coração.
Ela pensa, estou quase a querer algo. Estou prestes a ser movida. E fecha os olhos mas o silêncio só lhe devolve o som dos ponteiros do relógio.
Ela pensa em desejar.
Pensa em abrir todas as portas à sua frente, ainda que sejam mil. Em abri-las todas de seguida como um foguete, numa fome interminável para chegar ao final. Ser consumida por uma febre tal que pretender não basta, é preciso correr.

Ela quer querer. Mas jamais alcançar.
Para passar pela vida de rompante
sem nunca olhar para os lados.





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