07/04/10

Entardecer da revolução

Parece haver um dispositivo qualquer em mim que dispara de vez em quando. Serve para impedir a minha vida de se tornar demasiado estável. De um estalo fico poderosa o suficiente para levar a cabo uma revolução. E chacino até o mundo não ser mais que um mar de corpos inertes aos pontapés no chão. Sujos, amorfos, mas nunca inocentes.


Vejo-me, portanto, sozinha. Eu contra todos. O meu pior pesadelo. O pesadelo que, aliás, faria qualquer sanguinário molhar os lençóis. A solidão pura e absoluta.


No fim do dia vagueio, cansada, alguém chama o meu nome mas não reconheço o som, e rumino as palavras enquanto caminho. Se começa a chover arrependo-me, choro, quero afecto, mas só tenho abutres resignados com o pôr-do-sol. E quanto mais eles te vêem, menos tu existes.

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