06/01/10

Até ao pôr-do-sol (24 de Junho)




Era manhãzinha. Abri a janela à amante e mostrei-lhe o quão fresco é o cheiro do Mundo. Os pássaros tagarelavam e o ar revolvia-se a emoldurar o quotidiano. Ela não queria sentir, por isso insisti um pouco. Então as suas asas abriram-se, frágeis e renitentes, e voando timidamente lá foi ela em direcção ao fim desta história.

Fico na cama, despida. Oiço os gatos vadios delirando na rua, a procurar esfomeados onde depositar a sua fúria sexual. Murmuro-lhes que às vezes mais vale esperar pela chuva gelada. Não vai chegar o nosso casulo. Não surgirão os olhos perfeitos que nos farão florescer. Não podemos continuar à espera.
 
Tapo-me com os lençóis até não ver um ponto de luz.
Até ao pôr-do-sol gememos, eternamente vadios, eu e todos os gatos.

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