12/04/11

Rapazes

Gosto dos rapazes meigos, com medo no corpo. Gosto dos rapazes gentis, com fome na alma. Não se deve falar de rapazes, mas sim de cada rapaz. No entanto é difícil separá-los dessa aura. Homens, gajos, com promessas nos olhos – feitas a si mesmos.


Sinto os rapazes do outro lado de um rio, a olhar para o que tenho nas mãos. Vejo os rapazes sobre a colina, a polir ferramentas. Sempre despertos, sempre esperando.


Amei rapazes, beijei rapazes, ordenei a rapazes que retornassem ao útero de suas mães. Gritei com rapazes, chorei por rapazes, coroei rapazes como irmãos.


Convivi com rapazes nos seus universos selados, cheios de memórias que lhes oferecem um nome. Segui os olhos dos rapazes sobre as curvas femininas, ou um felino andar, ou uns lábios de cor obscena. Ri-me junto de rapazes, de piadas tropeçantes no absurdo, de remniscências infantis. Fui feliz junto deles sem os tocar, sem os ver quebrar, sem os conhecer.


Sinto os rapazes no fim das escadas, a escutar a melodia dos meus passos. Vejo os rapazes do outro lado de um bosque, sem haver uma passagem. Sempre lá, mas nunca lá.


Corri para rapazes, deitei-me com rapazes, vi rapazes adormecerem.


Amei rapazes, escrevi a rapazes, mas nunca os consegui acordar.


Sem comentários:

Enviar um comentário