28/03/11

6 da Tarde (excerto)



(...)

A mulher saiu do café, ansiosa por encontrar o carro para se sentar. Queria regressar à dimensão das ondas suspirantes, pairar nua num azul imenso com cheiro a sal. Mas de alguma forma sentia no seu íntimo que essa dimensão tinha sido dizimada para sempre com aquele encontro. Voltou-se para trás, o rapaz continuava sentado na mesa do café. Através do vidro viu-o, angustiado, fazer um desajeitado origami com um guardanapo. Um cisne. Que bonito, pensou ela, um cisne. E parou, por momentos, mergulhada num qualquer grão de poeira que pairava. Quando olhou novamente para o cisne, tudo tinha mudado outra vez, e ao invés de ser bonito, aquele cisne era mais uma banalidade grosseira. Lembrou-se de ter pensado, que bonito, um cisne. E envergonhou-se, curvada, no meio do passeio.

Porque estou curvada?, pensou a mulher, e depois percebeu, Ah, é porque está a chover.

[Mulher] – Não quero morrer aqui.

A mulher preferiu ir para casa.

(...)

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