01/10/10

Astenia



Tenho medo de me ter perdido das palavras.
Foram elas que me levaram ao mais fundo dos abismos e me deixaram sozinha. Para estudar o mundo e cegar no escuro. Vulnerável às frestas dolorosas de luz.


Nesse abismo fiquei dormente. Fui a primeira a abandonar-me e por isso sei que não devo ressentir-me de ninguém.
Não amar o mundo é não me amar a mim mesma. E reaprender a amar exige uma verdadeira solidão.


Ninguém voltará a intrujar-me com uma versão rasca de amor.
Nem voltarão a matar-me com a força do meu próprio abraço.


Depois de ter ido com elas até ao fim de tudo o que existe, e de ter cumprido todas as provas que havia, as palavras deixaram-me só. Num silêncio que desarma toda a dor e todo o grito.
Era essa a resposta, essa a solução. Sim.
Encontrei o que existe para não ser dito. E ainda assim temo ter-me perdido das palavras. Porquê?
Porque tenho medo?


Sinto que só existo quando o posso escrever.
Para o ler logo a seguir, e saber
estive aqui.

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