30/05/10

A Glória

«Em menino, desejei a glória. Nessa idade, desejamos a glória como desejamos o amor: precisamos dos outros para nos revelarmos a nós próprios. Não digo que a ambição seja um vício inútil; pode servir para espicaçar a alma. Simplesmente, cansa-a.  Não sei de nenhum êxito que não se compre com meia mentira; não conheço ouvintes que não nos forcem a omitir ou a exagerar qualquer coisa. Muitas vezes pensei, com tristeza, que a alma realmente nobre não alcançaria a glória, porque não a desejaria. Esta ideia, que me desenganou da glória, desenganou-me do génio. Muitas vezes pensei que o génio não passa de uma eloquência particular, um dom barulhento de exprimir. Mesmo que eu fosse Chopin, Mozart ou Pergolese, diria apenas, talvez desajeitadamente, aquilo que um músico de aldeia sente todos os dias, quando tenta o melhor possível com toda a humildade.»

Em Alexis, por Marguerite Yourcenar

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