02/05/10

Existir

Não basta o facto de eu simplesmente existir; eu tenho que fazer alguma coisa.
Não basta ficar o dia todo a olhar pela janela, sentir no meu corpo o formigueiro das células que morrem a cada instante.
Não basta sugar a programação televisiva inteira, de trás para a frente, apesar de a terem criado de propósito para mim, e de generosamente ma darem à boca às colheradas.
Não basta rir quando numa festa alguém conta uma piada difícil de entender.
Não basta fazer as palavras cruzadas do jornal.
Não basta passar os dias a despedaçar-me no sofá, deixando que a realidade fuja de mim à velocidade da luz. A realidade... Onde raios anda essa puta? ...Onde é que ela está, afinal?


Porque já percebi...
Que não basta eu acordar todos os dias nesta dimensão absurda em que um planeta inteiro está colocado nas mãos de monstros.
Não basta eu defender o fim dos estereótipos, eu usar elixir bucal, eu não olhar directamente para as chagas dos mendigos.
Nada parece servir para alguma coisa. Eu aprendo, mas não aumento. Eu avanço, mas não progrido. Eu sofro, mas não consigo sangrar.





[caption id="" align="aligncenter" width="329" caption="Puberty - Munch"][/caption]

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