07/02/10

Aniversário


Hoje faço anos e pus-me a pensar.
Vinha no carro a olhar para as malditas gotas de chuva a dançar no vidro. Deixam-nos sempre nostálgicos, não é? Pensei, elas não têm mente. Atravessam a vida sem convicção, sem vontade. E são intemporais, porque não usam relógio.
Estas gotas deixam-se escorregar. Dividem-se, confundem-se, competem. Contribuem para o ciclo complexo que torna a minha vida possível. Que milagre. A porra do mundo. Ao rever estes pensamentos apetece-me disparar um agrafador contra a minha própria testa.

Estou tão, tão cansada. Ainda sou apenas uma criança, e em termos relativos, o próprio planeta Terra é uma criança, e isso inclui tudo o que nele se passa desde há milhões de anos. É como se tivéssemos todos acabado de nascer. No entanto estamos sempre cansados. E não gostamos assim tanto de viver. Nunca nos sentimos realmente puros. E não exercemos assim tanto o que pensamos que está correcto. Não ajudamos assim tanto os outros. E nada nos apaixona o suficiente para nos tirar a corda do pescoço.


No nosso dia de anos, ficamos à espera de nos sentirmos diferentes. Olhamos em volta para as paredes, os quadros, os candeeiros, as cortinas. Buscamos um sinal, um qualquer piscar de olho secreto que certifique este dia como diferente dos restantes milhares. Especial. Melhor. E se acordámos especialmente psicóticos, somos capazes de esburacar o quintal inteiro com uma pá à procura da porra do motivo de celebração.


No nosso dia de anos, toda a gente se lembra subitamente da nossa existência. E daqueles que se esquecem, esquecemo-nos nós. Porque, afinal de contas, muitas dessas pessoas são figurantes sem rosto na nossa vida. E dos baratos. Daqueles que olham para a câmara.


Só quero terminar esta página dizendo que a vida é uma maravilha. E que se eu dissesse que era uma merda, ia dar ao mesmo. Porque é o que é. E tudo o que temos não é a nossa alma, não é a nossa mente, não são os nossos segredos. É o que fazemos com as nossas mãos. O que realmente fazemos. Não o que dizemos que vamos fazer, ou o que apregoamos que devia ser feito. Não. É aquilo em que tocamos, mesmo que seja para dar cabo de algo em que nunca devíamos ter metido o nariz.


Olho para as minhas mãos e vejo a tinta esborratada de tudo o que já escrevi. Como isto, sempre foi tudo pobre, confuso, prematuro. Está tudo cá.
Penso, isso não me serve para nada.
Mas que se lixe. Resisti a mais este dia.

1 comentário:

  1. klaro k serve, serve pa saber k ainda existes^^
    nao é bom existir?
    pensa nisso^^

    ResponderEliminar