11/01/10

Encontro

Estava um dia de frio insuportável. Encontrei-a à porta. Fumegava da boca, do pescoço e do café. Parecia entretida com um nó no estômago.

Olhei-a até me cansar. Depois olhei outra vez. Ela tinha as mãos vermelhas como se o sangue quisesse escapar pelas pontas dos dedos, talvez para compor um quadro impressionista. Debaixo dos olhos dela, pensei ver duas sereias, mas eram só olheiras normais. Senti pena. Pensei em meter conversa, por piedade. Sou sensível à solidão. Mas tive medo que me fumegasse para cima até eu embaciar.

Não há maneira engenhosa de dizer isto; foi constrangedor. Quando abandonei a triste criatura, ela partiu também, para o simétrico universo que existe para lá dos reflexos dos vidros. Ainda trocámos um último olhar, e verifiquei que o meu cabelo estava despenteado.

 

10-01-010


 


Sem comentários:

Enviar um comentário