30/03/11

Indolor

O cheiro de cães a arder penetrava-me as narinas. Percorri o corredor do gatil, onde olhos estavam dentro de celas. Onde passos davam voltas sem fim sobre o cimento sujo de fezes e ração. Onde vidas evaporavam no ar como estreito fumo sem razão. Onde vozes eram caladas pelo silêncio da prisão. Onde o tempo ruminava o espaço, os segundos carregavam o esgar da derrota.
O cheiro de cães a arder beliscava-me a pele. O homem que caminhava à minha frente contava-me que tinha afogado uma ninhada. Vacilei, perdi-me, porque eram demasiadas vidas para contar. Os meus dedos tremiam arrastando-se nas grades, os olhares imploravam por uma morte veloz que os levasse a verdes pradarias ou à absoluta escuridão. Porque na escuridão se pode imaginar uma liberdade.
Lá fora, vários cães esperavam para morrer respirando o cheiro dos anteriores. Mesmo nesses últimos momentos não lhes foi concedido o direito da imaginação. Não os quis olhar nos olhos. Fugi do meu coração. Desejei entrar com eles naquele forno e segurá-los até ao último fôlego, embora soubesse que estavam mortos antes disso. Mas quando, questionei-me. Quando se morre?
Talvez tenham morrido dentro das celas, onde sabendo-se invisíveis se coçaram com os dentes até provarem sangue. Talvez tenham morrido na mesa do veterinário, quando uma mão velha de homem os assassinou com uma seringa. Talvez eu os tenha morto quando infiel desviei o meu olhar.

Estes cães foram largados inocentes no meio da rua. Correram durante meia hora atrás do carro que os tinha abandonado, sorrindo meigamente até sucumbirem de exaustão. Estes cães foram amarrados a postes e deixados para morrer. Foram depositados em ninhadas dentro de caixotes, de carrinhos de supermercados, em parques de estacionamento. Estes cães foram "disciplinados". Foram "ensinados". Foram "treinados". Estes cães foram pontapeados.
Entendi o que se passava com o mundo. Temos o Amor em jaulas. Temos o Amor em caixas a dar voltas sobre si mesmo em loucura. Atiramos o Amor para fornalhas em dias pré-marcados nos calendários. Deixamos o Amor morrer depois de o curvarmos com a nossa violência. Partimos-Lhe o pescoço e chamamos-lhe indolor.

The Holidays - Broken Bones

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=P87Go331uyM?rel=0&w=480&h=390]

28/03/11

Nexo (2007)

Vou deixar um bilhete para ti em cima da cama. Tu não vais compreender o que o bilhete diz, atordoado entre palavras e frases sem nexo. Vais perceber que o bilhete é meu por causa da falta de nexo que sempre distinguiu os meus gestos dos outros gestos, as minhas palavras das outras palavras.
Vais questionar-te por momentos acerca do que terás feito de errado, mas com satisfação desistirás dessa busca, atribuindo todos e quaisquer atritos à minha permanente incongruência.
Vais rasgar o meu bilhete e suspirar, caminhando para o quarto. As minhas roupas terão desaparecido por essa altura. As minhas cartas. As minhas cores. Só ficarão as cicatrizes da minha passagem. Permanecerão apenas os objectos que mudei de lugar para deixar a luz atingir-te o rosto.
Vais precisar de cerca de meia hora para te aperceberes de que levei tudo comigo, as noites, os perdões, as dores entornadas pelos corpos, a música. Levei o sangue e a saliva. Só deixei o bilhete. Devias sentir-te esmagado pela minha arrogância. A porra de um bilhete em troca de tudo.
Mas não te vais sentir esmagado. Não vais sentir uma pontada de dor, sequer. Não sentirás absolutamente nada, para já… a não ser talvez uma levíssima perturbação, um vago não-entender, voz subterrânea imperceptível.
Depois disto, eis o que vai acontecer; vais prosseguir com o quotidiano, a coreografia. Tudo vai parecer igual, cada previsibilidade será cumprida.
Mas eu, nunca serei substituída. Nenhuma outra mudará os objectos de lugar. Nenhuma mulher virá contrariar o teu nexo, a tua sensatez crónica. E lentamente começarás a aperceber-te da minha falta. Começarão a doer-te os espaços vazios que eu costumava habitar. As tuas arestas tornar-se-ão demasiado pontiagudas para o teu espírito e vai doer, vai doer, vai doer meu amor, a solidão, a forma como ela serpenteia dentro de ti sem rumo pré-agendado. Vais ter saudades da minha loucura, da minha desorganização propositada, dos meus abraços longos demais. Vais ter saudades das divergências, discordâncias, das encruzilhadas.


Tu, companheiro, virás procurar-me com pedaços do meu bilhete rasgado. A tua memória tingida com imagens do meu rosto já disformes, porque o tempo confunde as pessoas. Como esperarás reconhecer-me…? Encontrar-me-ás através da única coisa que sempre distinguiu os meus gestos dos outros gestos, as minhas palavras das outras palavras. E caminharás para mim  carecendo de tudo aquilo que sempre te repeliu. Chegarás transpirado e exausto, rendido até ao fundo do teu olhar, e entre nós não voltará jamais a haver lugar para o nexo.

6 da Tarde (excerto)



(...)

A mulher saiu do café, ansiosa por encontrar o carro para se sentar. Queria regressar à dimensão das ondas suspirantes, pairar nua num azul imenso com cheiro a sal. Mas de alguma forma sentia no seu íntimo que essa dimensão tinha sido dizimada para sempre com aquele encontro. Voltou-se para trás, o rapaz continuava sentado na mesa do café. Através do vidro viu-o, angustiado, fazer um desajeitado origami com um guardanapo. Um cisne. Que bonito, pensou ela, um cisne. E parou, por momentos, mergulhada num qualquer grão de poeira que pairava. Quando olhou novamente para o cisne, tudo tinha mudado outra vez, e ao invés de ser bonito, aquele cisne era mais uma banalidade grosseira. Lembrou-se de ter pensado, que bonito, um cisne. E envergonhou-se, curvada, no meio do passeio.

Porque estou curvada?, pensou a mulher, e depois percebeu, Ah, é porque está a chover.

[Mulher] – Não quero morrer aqui.

A mulher preferiu ir para casa.

(...)

Sunshine Snare Hits (Onde Estou Quando Fecho Os Olhos)

Foi numa noite de luar. Deste-me a mão e corremos para o mar. Beijei-te entre goles de água salgada. Havia ondas a insistir nos nossos corpos.
Eu ainda não estava apaixonada, mas o teu sorriso destruiu a minha força para fugir. Os teus olhos brilhavam cheios daquilo a que se chama felicidade, suponho. Eu nunca o tinha presenciado e paralisou-me a alma. Foi como olhar para o coração do universo, em toda a sua doçura e complexidade.
Foi a primeira noite. Nós éramos quase-estranhas. Mas despi-me perante os olhares distantes da multidão e segui-te para a água fria. Tinha uma saia preta de tule que depressa se transformou em medusa.
Penso nessa noite como penso numa criança - inocente e sem cuidado. Ela nunca partiu realmente, mas sinto-lhe a falta. Sinto falta do cheiro do mar, dos sons ao meu redor, do meu medo e do meu amor. Seguro nas mãos apenas uma imagem coçada com três frames seguidos, um GIF mal conseguido, que vai assim: o teu sorriso, depois engulo um pirulito, depois caminho de volta para a areia a morrer de frio.
É lá que estou quando fecho os olhos.

25/03/11

O Erro

Seria maravilhoso se pudéssemos amar os nossos erros. Não conheço invenção mais maquiavélica que o sentimento de culpa. É capaz de nos triturar sem que consigamos sequer aprender com as consequências das nossas escolhas.
Seria maravilhoso se pudéssemos amar as feridas. As que inflingimos. Como o degrau essencial para que possamos evoluir. Sabes, neste preciso momento a culpa ata-me os dedos, impedindo-os de escrever. Faz um nó da minha mente, embacia-me o olhar. Mas dentro deste fogo de repressão eu quero dizer. Eu quero falar. Quero que fique escrito.
Abençoado seja o degrau. Abençoado o meu erro. Que me ergue a olhar de frente os horizontes da minha liberdade. Que me transporta de volta para dentro deles e me ensina a não voltar a transgredi-los. Pois deverão apenas irradiar sobre os outros para os libertar também.

23/03/11

Sin Fang Bous - Clangour and Flutes

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=dbDAUwMo6iw?rel=0&w=480&h=390]
«You've been blessed with a burden, my daughter.»

Freedom Writers

Hoje é um grande dia

I. Tu

És bondade, da medula à epiderme – isto percebi desde que nos conhecemos. E pensei, - alguém tão bondoso tem de ser ingénuo. Ou ignorante. Mas não és uma coisa, muito menos a outra. És simplesmente pura, e não tens caprichos. És meiga e não voltas as costas ao mundo. És sensível mas não és fraca. Choras e ris e combates. E tu queres morrer a combater. Pelos outros. Apesar.

II. Casa

Esta Casa é a melhor Casa do mundo! É tudo o que sempre desejei numa casa. O chão estala, as portas estão mal cortadas. A cozinha tem três palmos de espaço e temos um segundo quarto minúsculo para o qual nem existe designação. O agente imobiliário chamou-lhe ‘box room’. As janelas não têm estores, uma delas está partida. O autoclismo funciona mal, a banheira é praticamente inacessível e por vezes o interruptor da luz decide encravar. Temos um pequeno jardim, ainda inutilizável, com bocados inteiros de muro caído.
Esta Casa cheira a Casa! Cobrimos as paredes de verdes e vermelhos e dourados e azuis e lilases e amarelos e castanhos. Fotografias e flores e pinturas e recortes e postais e colagens. Panos, livros, desenhos. Enchemos o armário com as nossas roupas. Cobrimos a cama com o nosso aroma. Acendemos incensos que fazem corridas de fumo pelo corredor. E esta Primavera olhei para a janela e vi lindos verdes recém-nascidos no nosso jardim. Que tinham esperado por nós, debaixo da neve e debaixo da terra.

III. O Resto

Muitos de nós aprendemos que certas coisas que valorizamos acabam por tornar-se insignificantes com o passar do tempo. Saber isso ajudou-me a retirar gravidade a acontecimentos. Mas são sempre aqueles a que não prestaste atenção que voltam para te assombrar. Conclusão, tens que estar sempre atento e sempre racional - o que é impossível. Ora o que eu sempre mais receei foi morrer com assuntos mal resolvidos, ou desconfortos, ou mal-entendidos, ou rancor. Poucas coisas desejo mais que morrer em paz e não deixar a ninguém uma ferida. Mas como saber que rancor, que ferida? Como saber que eventos se vão tornar insignificantes e quais me vão assombrar? A resposta é, não importa. Talvez seja um modo de auto-policiamento o facto de ser aleatório que memórias nos vêm enlouquecer. Para que não deixemos de procurar perdão por cada dor ou conflito, e dar perdão. Para que nada fique por dizer junto de ninguém. Isto é bom. Eu saber isto é bom, eu fazer isto é bom. Para que eu viva em amor e morra em paz.

IV. Mais Nada

Hoje é um grande dia.


22/03/11

18/03/11

Londres

Inventário

No autocarro:

Duas pindéricas e os respectivos pretendentes. Elas têm unhas falsas e um deles os dentes branqueados, a emitir radiações.
Um senhor de cabelos brancos a segurar numa guitarra. Tem um lindo casaco verde e um brinco na orelha esquerda.
Um gangster gordíssimo envergando um fato de treino em puro plástico amarelo e vermelho. Tem metade de um cigarro entalado na orelha.
Uma senhora preocupada com um saco de flores compradas no supermercado.
Um rapaz africano com trancinhas a emborcar bebidas energéticas para ir para o trabalho da noite.
Uma pseudo rebelde pseudo zangada com cabelo vermelho, nova e certamente num emprego de merda.
Duas mulheres paquistanesas a conversar. Têm as cabeças tapadas com panos brancos e despedem-se chamando-se “darling”.

No andar de cima do autocarro não sei quem vai. Mães com filhos, provavelmente, e pessoas que querem ser deixadas em paz.
Este autocarro é ruas infindáveis, é fusão de ritmos, é suor. Este autocarro é Londres. Com rodas que não se permitem ficar paradas e um motor que trepida para chocalhar todos lá dentro. A tentar fazer de nós um só elemento, uma só corrente.
Mas falha.
Entre nós silêncio. Entre nós memórias de escravatura. Entre nós bandeiras e mapas, senhores e servos. Entre nós paixão que ofusca. Tédio, desprezo, indiferença. Diferentes perfumes com diferentes palavras a dizer.
A diferença prevalecerá. Sem importar que partilhemos uma cidade. Londres é o mundo. E estas pessoas vivem desejando a noite, para poderem sonhar na sua língua.

Epílogo

Não foste o melhor de mim.
Não foste o meu pico de paixão, o orgasmo do meu existir.
Não foste o meu mais belo, o meu mais radioso.
Não foste o auge, o cume, o clímax.
Não foste o mais verdadeiro de mim.
Não foste o mais bondoso de mim.
Não foste o melhor que eu fiz, fui ou vivi.

Não és o amor da minha vida.

16/03/11

A Pêra Que Caiu Nas Minhas Mãos

(Vou deixá-la cair aqui.)

Duas irmãs numa cama fria. Lá fora os sons da noite a rasgar o tempo em retalhos desiguais. O vento, a terra, os cães. Elas estão descalças, e os pés desejam juntar-se numa fricção desesperada para criar calor. Mas o calor não virá, os pés são blocos de cimento gelado, meteoritos caídos para toda a eternidade.
No quarto ao lado os pais ressonam num dueto. Os seus membros estão enterrados no colchão, inflados de sangue e cansaço.
As duas irmãs estão acordadas, no meio do silêncio e da escuridão. E imersas nesse imenso Nada, nesse eco de palavras não ditas, são uma para a outra a única familiaridade. Elas entreolham-se, adivinham o rosto que se esconde por detrás das trevas, dizem: Aqui está uma boca, aqui está uma orelha. E os seus dedos viajam ao longo do rosto, ao longo do peito… Em breve exploram mesmo aquilo que não conseguem adivinhar no escuro, mesmo aquilo que nunca viram.

Fazem amor. Sem possuírem uma palavra. Erguem uma fogueira no desejo de inventar a luz. E avançam em generosas braçadas até à fonte, ao centro, à primeiríssima faísca. Amam-se ao contrário; projectando-se de volta ao átomo-Pai.

Por fim, o sol começa a nascer, arrogante da sua pontualidade. Elas repousam nuas, seios brilhantes de saliva, mãos prostradas sobre os ventres. Regressaram de uma viagem que em breve se tornará segredo. Quando isso acontecer nada neste retrato vai conservar o seu odor. A lembrança vai oxidar, como uma pêra demasiado madura.

(Aqui.)


10/03/11

O Leite Com Café


Acordas sempre branda, morna da cama. Os nós dos dedos entram-te nos olhos, empurram os sonhos para o alto da cabeça. Sabe bem mas custa. Faço-te o leite com café, são duas colheres de açúcar. E depois?
Eu não quero abrir a janela, tu não queres que eu abra a janela.
Eu não quero olhar lá para fora, tu não queres sair.
Queremos mergulhar neste leite com café e adormecer afogadas, partilhar sonhos de amor sem manhãs nem anoitecer.
Cais-me no ombro e a chávena dança sobre o teu joelho, ameaça tingir de café o negro dos nossos lençóis. E depois?
Tu não queres que eu volte a acordar-te, eu não quero voltar a acordar-te.
Tu não queres o leite com café, eu não me importo de o beber.
Queremos planar ignorantes do tempo, até que sejamos livres de voar. Para longe.

09/03/11

Willow Tree

Sleep all day
Just waiting for the sun to set
I hang my clothes
Up on the line

When I die
I'll hang my head beside the willow tree
When I'm dead
Is when I'll be free

And you can take my body
Put it in a boat
Light it on fire
You can use the kerosene

Take my body
Put it in a boat
Light it on fire
Send it out to sea

05/03/11

Furtiva

Sonho contigo, passageira de uma brisa que não consigo caçar. Sonho contigo a passar de raspão, uma imagem arrastada a esfolar-me as pernas todas.


Conheço-te o cheiro tão bem...


o cheiro dos presentes por abrir.


04/03/11

Em Que Ano Estamos

Não sei em que ano estamos. Já não tenho sequer perguntado. O passar do tempo entedia-me quando não me aterroriza.
Oiço aviões no céu, por cima do meu quarto. Pergunto-me quanto faltará até que as bombas comecem a cair, até que eu comece a acordar sobressaltada com gritos e o cheiro do fogo.
Talvez quando o Mundo estiver prestes a acabar, eu sinta falta de casa. Talvez eu pense, pobre da minha mãe.
Esse aperto tão doloroso de impotência e gratidão, esse desejo de regressar, de redimir, de dizer: afinal sim, afinal não faz mal; quero esse aperto. No meu peito. Mas sei que só chegará tarde demais.
E que me poupem aos condescendentes sermões aqueles que saltaram sobre a minha cabeça quando eu já estava até meio enterrada no chão. Vêm agora dar conselhos e tecer nostalgias aquelas almas cinzentas que eu colori sozinha, com estas mãos. Que eu fiz crescer e nutri, com cuidados de irmã, com devoção de esposa. O que é dar amor senão fazer crescer um fruto que outros colhem e levam?

Oiço aviões. As paredes vibram docemente enquanto os sinto planar sobre mim. Talvez se julguem uma promessa de fim, mas eu ainda estou à espera que tudo comece.
Como são amargas as palavras de um coração doente. Como é feia a desilusão sempre derramada no meu papel.
Mas não quero pena
não quero que me segurem
não quero ouvir arrependimentos
nem quero saber em que ano estamos.

01/03/11

Fumo

As minhas palavras são o meu fumo. Às voltas, a ondular, uma cascata invertida. O sol bate-me nos olhos vindo de uma longa fresta, ao longe, e fustiga o meu fumegar. O meu fumo começa a definir-se como espaço negativo de uma luz divina. Gaguejo, o fumo é agora bolas transparentes de tosse interrompida. E eu vejo com os meus olhos que se me inclinasse, se erguesse a mão eu conseguia tocar a luz. Eu conseguia penetrar com o meu punho aquele rasgão no tecido da fortaleza. Mas não me inclino. Não ergo a mão. Fico parada a pasmar, admirando os meus fumos. Os seus caprichos, as suas inclinações. A viver numa paixão exarperante pela cortina de seda com que o meu fumo desafia aquela luz, com que ele a contamina e seduz com todas as suas peculiaridades.


Sim, e eu sei. Como ninguém vai nunca saber isto. Como nunca ninguém presenciou estes momentos em que magia acontece entre os meus lábios, na ponta dos meus dedos, no tecto da minha mente. Expirar palavras é como pintar o nosso céu de estrelas privado. É criar, e pensar, isto já foi feito. É inventar, mas saber, a fórmula já estava escrita, algures, antes de alguém a ter descoberto. É olhar para labirintos secretos dentro das coisas, ver de que são feitas. É perder a cabeça, é, enfim, encontrá-la. É ter medo. Escrever é… nascer, com medo.


Mas dentro do medo, paixão. Mas dentro da paixão, esperança. Mas dentro da esperança, o sonho. E dentro do sonho, há fumo.