15/04/11

Dormir

Estás a dormir e não sabes que eu estou aqui. A tua mão está caída sobre o meu peito, o teu pé entalado entre as minhas pernas. Estou ainda molhada do teu suor. A mão está fechada como a de um bebé, e não me deixas abri-la. Tento entrelaçar os meus dedos nos teus, mas não estás aqui, saberás que eu existo? Onde andas?


Eu não quero ir. Quando tens os olhos fechados eu abro os meus furiosamente, sem deixar um instante passar. Testemunhando tudo, até não aguentar mais.
Enquanto não regressares eu não posso partir; enquanto não te vir abrir os olhos e saber que vais apanhar os momentos por mim, guardar o tempo no coração e soprá-lo sobre o meu corpo.


Não vou dormir. Se partimos as duas o que será do mundo? O que será da casa, dos tijolos dentro das paredes? Não posso parar. Mesmo sozinha, não posso parar. Tudo continua e é preciso estar aqui, a segurar as fundações. Com braços e lágrimas e tédio. Confusão.


Rebolas para o lado, escorrem gotas de suor por mim abaixo. Tenho medo que durmas para sempre mas sei que não devo acordar-te. Tenho medo de nunca ir adormecer mas sei que tenho de permanecer desperta. Tenho medo de nada ser real mas sei que tenho que viver ou perder tudo.


Sem comentários:

Enviar um comentário