Estes homens rastejam pela cidade o seu coração a mendigar.
Vivem lado a lado com os seus reflexos nos autocarros, nos comboios, nos metropolitanos. E miram-se, cansados, sem sorrir.
Estes homens têm casas atravancadas com mulheres rabugentas à espera. Mas elas esperam para sempre, porque eles nunca regressarão. Fazem rondas à volta e por dentro da cidade. De dia e de noite, eles estão por todo o lado, sentados nos banquinhos infestados dos transportes públicos, de mãos pousadas nos estofos berrantes.
São quase transparentes, meros trambolhos a congestionar as vias. São obstáculos à nossa pressa nas grandes escadas do metro. Os vultos passam junto deles à velocidade da luz, sem olhar.
Tudo o que eles precisam é de um sorriso. Um sorriso de um estranho. Com o olhar inequivocamente direccionado para eles, um momento antes de eles se desvanecerem no espaço. E apenas esse sorriso libertará estes homens da intemporal vagueação pela urbe.
Estes homens trazem nos olhos a carência renovada do Universo. E nos braços um tal vazio que se consegue alimentar de si mesmo, mastigando as vozes remotas que indicam a próxima paragem.
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