Estou farta dessas malditas perguntas. Não saberão eles que todas as palavras caem no chão? Não perceberam ainda que quando eles falam, tudo o que chega ao destino são meros ecos de voz?, meros fiapos de energia instável?, uma coisa que não toca ninguém, que não belisca ninguém, que não atira ninguém ao chão?
Não terão ainda percebido que todo o som está morto a partir do instante em que nasce? Tal como nós.
Por isso devemos calar, devemos aquietar-nos num acordo não pronunciado. E talvez, eu acredito, se calarmos toda essa morte tirana que nos rasga pela boca fora, se engolirmos todas essas palavras que expelimos como cadáveres a cair de um lugar muito muito alto, nós acabaremos por ouvir. Algo tão poderoso que essas palavras que vomitamos extinguir-se-ão para sempre como mais uma peste histórica.
Mas a parte difícil é esta, só vamos ouvir quando todos estivermos calados. E nem todos concordam, somos um bando conflituoso, fritamos a carne em medo. Precisamos do veneno das palavras tanto quanto tememos ficar a sós com o silêncio.
Essa parte é, alerto, mesmo muito difícil. Porque, - e se atentarem irão facilmente confirmá-lo, - há sempre alguém a tentar dizer-nos alguma coisa.
Está nas paredes.
Está nas ruas.
Já entrou nos nossos ouvidos.
E eu sei, pobres escravos, que não têm forças para quebrar o deleite infinito da confortabilidade. E eu sei, é uma longa escada, com muitos degraus difíceis. E para subi-la, ninguém quer deixar nenhuma bagagem para trás.
Mas peço, poupem-me só a mim. Em nome da compaixão que as vozes dizem que todos merecemos:
Visto que na verdade não querem ouvir,
então não me façam perguntas.